Motivos para combater o bullying infantil: as consequências de interações nocivas

Caracterizado pela violência repetitiva e desproporcional — em que a(s) criança(s) agressora(s) sempre têm condições mais favoráveis que a(s) agredida(s), seja por ter mais força física ou apoio da maioria —, o bullying infantil, infelizmente, é problema comum em todos os países.

Para se ter dimensão do quão generalizado é esse tipo de violência, a estatística mundial de ocorrência é de 32%. Ao trazer o olhar mais próximo à nossa realidade, na América do Sul, o índice segue parecido, atingindo 30,2% das crianças, conforme o estudo da Unesco “Behind the numbers: ending school violence and bullying” (2017).

Nocivo e preocupante no curto e longo prazo para as vítimas, o bullying infantil também aponta a necessidade de trabalho junto aos agressores. Isso porque suas características, como a pressão social e psicológica, fazem com que todos os envolvidos tendam a levar consequências negativas dessa experiência para a vida adulta.

Quer entender melhor o bullying infantil e compreender se o seu filho está passando por essa violência? Continue a leitura!

Quais são os principais tipos de bullying infantil?

O bullying não escolhe gêneros. Nos países sul-americanos, tanto meninos (31,7%) como meninas (29,3%) passam por essa violência em recorrência praticamente igual, retratando inúmeros casos de sofrimento.

Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, existem vários tipos diferentes de agressões que se encaixam como bullying. Veja os principais:

Físico

São as intimidações que visam forçar a criança a fazer algo, além de ataques com empurrões, chutes, ferimentos, arremesso de objetos, danificação ou roubo de pertences. Esse tipo de abuso é sofrido por 13,6% dos meninos e 5,6% das meninas da América do Sul.

Recentemente um caso de bullying desse tipo ocorreu em uma escola na capital paulista, contra um garoto de 13 anos com síndrome Down, e ganhou repercussão após um vídeo das agressões físicas circular pela internet.

Psicológico

O bullying psicológico acontece de maneiras sutis, sendo, às vezes, intitulado de “brincadeira”. Entre as ações que o caracterizam estão: provocações, xingamentos, nomes preconceituosos ou maldosos e também ao excluir ou ignorar a outra criança.

A América do Sul tem média alarmante (14,9%) frente ao índice mundial (5,5%) desse tipo de bullying.

Esse tormento é tão nocivo que pode ter desfechos trágicos, como a associação de bullying com os atiradores da escola em Suzano (SP), responsáveis por matar sete pessoas e ferir outras 11, que chocou o país no início de 2019.

Cyberbullying

Esse é o tipo de bullying mais difícil de ser combatido e o que causa maior projeção e danos para as vítimas.

Ele é praticado por meio de comunicação eletrônica (ligações, e-mails, mensagens, postagens, sms, vídeos online) e, por isso, muito fácil de se alastrar e gerar impactos imensuráveis à saúde da criança alvo. Neste tipo de bullying infantil, o agressor intimida, ridiculariza, difama, ameaça e/ou expõe o alvo.

Entre crianças e adolescentes brasileiras de 9 a 17 anos, foi constatado que 24% das meninas e 20% dos meninos tinham sido tratados de forma ofensiva na internet nos últimos 12 meses (Cetic.br, 2017).

Em janeiro de 2019, uma modelo australiana de 14 anos se suicidou após sofrer cyberbullying, evidenciando os agravantes da violência online como a constância, a propagação e a agressividade.

Como é mais complicada a identificação dos agressores nesses casos, eles sentem-se livres para disseminarem o objeto de agressão (como uma foto, um vídeo ou uma notícia). Isso deixa a criança muito mais vulnerável à novas ações agressivas, como comentários, aumentando progressivamente o sofrimento dos pequenos.

Seu filho é uma vítima?

Após sabermos dos número de casos não é incomum pensar nos filhos. Afinal, ninguém quer ver quem mais ama sofrer. Por isso é bom saber que crianças expostas à violência recorrente demonstram alguns sinais que devem ser observados pelos pais e docentes com atenção, tendo em vista que, num primeiro momento, podem ser interpretados como preguiça ou até mesmo ignorados.

Dada a vergonha que sentem nos episódios de bullying, a grande maioria das vezes as crianças não irão iniciar conversa sobre o esse tipo de problema.

Veja alguns sinais que podem indicar que seu filho tem sido vítima dessa agressão:

Rejeição à escola

É mais comum que a iniciativa da criança seja pedir constantemente para faltar as aulas, assim como mudar de instituição, sala ou período, com o intuito de fugir das pessoas que o estão violentando.

Dificuldade de aprendizagem

A sensação constante de medo e a aproximação do local e do horário em que as agressões acontecem podem gerar diversas reações físicas como crises de ansiedade com sintomas típicos, tais quais: tremores, suor frio, dor de estômago e/ou de cabeça.

Já em aula, mais sintomas ocorrem com a criança. Devido à pressão da situação, por exemplo, ela pode não conseguir manter a atenção e a concentração, o que afetará diretamente o seu rendimento escolar.

Ao identificar essas circunstâncias no cotidiano com os seus filhos, é importante buscar ter uma conversa franca e aberta. Para isso, os pais devem estar mais dispostos a ouvir do que a falar.

Afinal, caso seu filho seja uma vítima de bullying infantil, ele já está sob uma situação de estresse extrema e, portanto, precisa se sentir seguro a ponto de contar sobre as humilhações, violências e sofrimentos pelos quais tem passado.

Em seguida é necessário mostrar que nada dessa situação é culpa dele, dar subsídio para que possa se defender e ter um diálogo que gere ações junto à administração da escola e diretamente com os pais dos agressores.

Quais os problemas causados pelo bullying infantil?

bullying infantil

O bullying infantil é um tema sério que precisa ser debatido e combatido. Existem inúmeras comprovações dos danos que essa violência acarreta, como:

  • crianças que sofrem bullying são mais propensas a desenvolverem depressão e ansiedade (American Psychological Association);

  • elas têm três vezes mais chances de desenvolver ansiedade, duas vezes mais a ter depressão, e são 3,5 vezes mais propensas ao suicídio (Canadian Medical Association Journal);

  • as vítimas têm dificuldade de reconhecer emoções, sentem mais medo e mais estresse, o que demonstra um dano no cérebro que gera dificuldade de aprendizado e vulnerabiliza a transtornos de ansiedade e humor (Instituto do Cérebro/RS);

  • apresentam resultados escolares piores, maiores chances de abandonar os estudos após o ensino médio, além de, durante o período escolar comum, tenderem duas vezes mais a faltar e três vezes mais a se sentirem estranhas (Unesco);

  • vulnerabiliza as vítimas, na vida adulta, a outros problemas como o abuso de drogas (legais e ilegais), transtornos alimentares, cânceres, doenças cardiovasculares e metabólicas.

É inegável que para se desenvolverem adequadamente e explorarem todo o seu potencial, as crianças precisam se sentir seguras e encorajadas. No entanto, o bullying infantil afeta esse desenvolvimento, dada a situação de tormento vivenciada e que traz prejuízos e consequências muito graves.

Esse é um problema sério e, em grande parte das vezes, o principal motivador das agressões é o preconceito, o que faz com que as crianças em condições mais simples sejam as principais vítimas do bullying infantil. Afinal, elas não costumam ter pertences novos (materiais, calçados, roupas) e já são vítimas das demais circunstâncias decorrentes da vulnerabilidade social. Esse problema se torna ainda maior para crianças que não tem estrutura familiar para lidar com a situação.

É por essas e outras situações de vulnerabilidade que o ChildFund Brasil existe e trabalha em prol da sociedade. As crianças são as grandes protagonistas da nossa história e nossos projetos sociais são fundamentais para melhorar a qualidade de vida de muitos jovens, incluindo aqueles que são, de alguma forma, afetados pelo bullying.

Afinal, sabemos que as consequências do bullying acabam influenciando na saúde da criança e, automaticamente, no rendimento escolar, na vontade de estudar, na autoestima e podem ser um combustível para a continuação de mais ciclos de vulnerabilidade, como o abandono escolar e o consumo de drogas.

Como podemos notar, por trás das simples “brincadeiras sem graça” ou “brigas de criança”, existe um problema muito mais sério e nada inofensivo: o bullying infantil. Menores que sofrem este tipo de coação estão expostos a consequências, muitas vezes, irreversíveis.

Portanto, a sociedade precisa de pessoas atentas e comprometidas para proteger e auxiliar. E o combate a essa violência começa com a conscientização sobre o problema: compartilhe este post e informe mais pessoas sobre o bullying infantil!

ChildFund

O ChildFund Brasil é uma organização de desenvolvimento social que por meio de uma sólida experiência na elaboração e no monitoramento de programas e projetos sociais mobiliza pessoas para a transformação de vidas. Crianças, adolescentes, jovens, famílias e comunidades em situação de risco social são apoiadas para que possam exercer com plenitude o direito à cidadania.

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