Rússia x Ucrânia e a situação de crianças em cenários de guerra

Se você é uma pessoa sempre atenta aos noticiários ou assuntos mais comentados no momento, certamente já está ciente do imbróglio que vai muito além do embate Rússia x Ucrânia. Nações de todos os continentes se posicionam fortemente contra a invasão russa, e pacotes de severas sanções já estão sendo aplicadas com o objetivo de promoção do cessar-fogo. Em meio à tensão provocada pelo clima de conflito entre potências bélicas, é inevitável fazer uma importante pergunta: e as crianças?

É latente que se considere que as crianças fazem parte do grupo de pessoas mais vulneráveis na sociedade. Além da disparidade física e motora em comparação a um ser humano adulto, ainda estão em processo de desenvolvimento moral, psíquico e sentimental. Uma criança está mais propensa a sofrer abusos de todas as espécies, uma vez que ainda não possui habilidades e discernimento necessários para evitar situações de risco e, quando possui, pouco pode fazer para se defender.

Dentre outras coisas, um ambiente harmonioso e a sensação de segurança são requisitos mínimos para uma sobrevivência digna, principalmente quando falamos sobre indivíduos com suas personalidades em formação. Como cobrar valores e conceitos de “certo” e “errado” a crianças que, antes de mais nada, precisam aprender a sobreviver a bombardeios, projéteis, abusos e demais atrocidades de uma guerra? A violência é um ciclo traiçoeiro que pode perdurar por décadas a fio, e a história é a nossa maior prova.

Neste artigo, conheça os impactos da guerra durante a infância e o que fazer para ajudar.

Para além de Rússia x Ucrânia: como milhares de crianças são afetadas pela guerra todos os dias
 

O embate Rússia x Ucrânia está em todos os lugares, muito por se tratar de um acontecimento recente e muito pelo estranhamento, afinal, não é comum que, na atualidade, ocorram conflitos entre nações europeias. Entretanto, essa não é a única guerra corrente no mundo: a Guerra Civil na Síria, por exemplo, já perdura por mais de 10 anos, tendo se tornado um espiral de atrocidades longe de ter um fim. Além deste, há também conflitos na Somália, Etiópia, Iêmen, Irã, Afeganistão, Líbano e até uma crescente onda preocupante de episódios de violência no México.

Comumente situados em países economicamente precários ou instáveis, esses conflitos já renderam mais de 170 mil violações graves contra crianças e adolescentes apenas durante a última década, segundo estudo da Unicef. Uma infância cercada de privações, pavor e morte dificilmente será o estímulo para a formação de um adulto saudável e plenamente desenvolvido, e é esse o mais terrível legado de uma guerra: incontáveis gerações perturbadas por seus horrores.

Os danos à saúde mental

Sem dúvidas, uma das mais comuns e mais óbvias consequências. Os danos à formação psíquica de uma infância atormentada pela guerra podem ser irreversíveis. Desde muito cedo, crianças e adolescentes em zonas de conflito são obrigados a conviver com a perda, a falta e o medo, afinal, nunca se pode prever quem será a próxima vítima.

Crianças em cenários de guerra são, desde muito cedo, ensinadas  que existem inimigos. Como enxergar, senão como um inimigo mortal, aquele que ameaça diretamente a sua vida a as vidas daqueles que mais se ama? Essa insegurança aprendida pode dificultar a formação emocional da criança, prejudicando qualquer tipo de relacionamento interpessoal. Como confiar e amar plenamente outro ser humano quando se sabe de tudo aquilo que ele é capaz?

Esses sentimentos conflitantes podem, inclusive, ser utilizados a favor da guerra. Quando em estágio bastante avançado, a guerra pode também se utilizar de crianças na linha de frente, as chamadas crianças-soldado. Milhares de crianças já foram mortas em combate, vítimas da coerção de adultos que se aproveitam de sua fragilidade.

Deslocamento, insegurança e xenofobia

Muitas dessas crianças e suas famílias são obrigadas a se mudarem para outro país, que muito provavelmente não terá estrutura suficiente para abrigar uma intensa quantidade de refugiados. Com medo e por acreditarem que se trata de uma ameaça à sua própria segurança, a população do país responsável por abrigar esses imigrantes pode ainda rechaçar e hostilizar famílias recém chegadas.

Além disso, a criança se vê longe de sua cultura, de seus costumes e de seu povo. Começar de novo pode parecer animador a priori, mas o sentimento de pertencimento e acolhimento do ambiente é muito importante para a formação saudável de uma criança. Principalmente quando já se está profundamente marcado pelas atrocidades de uma guerra que pode, entre tantas outras privações, tomar o seu lar.

Há casos onde a criança é, ainda, separada de sua família. São inúmeros os relatos de crianças que conseguem adentrar um novo país, mas o mesmo direito não é concedido à sua família, fazendo com que a criança fique à sua própria sorte. Entretanto, crianças que conseguem escapar da guerra são consideradas as “sortudas”, mesmo que em tais situações. Isso dá uma dimensão dos horrores presenciados em cenários de conflito.

Ainda sobre o conflito Rússia x Ucrânia, data-se que o número de refugiados já chega a 2 milhões. A parte mais impressionante dessa estatística é que, dentre estes 2 milhões, a impressionante metade é composta por crianças.

Falta de dinheiro e de acesso a direitos básicos e essenciais

Há ainda, é claro, a insegurança econômica. Impossibilitados de proverem um sustento suficientemente satisfatório para a sua prole, os líderes dessas famílias são muitas vezes submetidos a empregos abusivos e de baixa remuneração. Além disso, cenários de guerra afetam toda a estrutura de funcionalidade de uma cidade, tornando difícil o acesso às coisas mais básicas. Imagine um cenário de lockdown, mas milhões de vezes pior.

Escolas são esvaziadas, hospitais são tomados por feridos e mutilados a todo instante, causando superlotação e falta de mão-de-obra. Supermercados são fechados e nenhum lugar é seguro, nem mesmo a sua casa; quando ainda existe uma. A locomoção é dificultada, principalmente em cenários de ocupação de tropas, afinal, o inimigo está sempre por perto.

Além das consequências mais óbvias da pobreza como alimentação inadequada, falta de acesso à educação, saúde, transporte, higiene, segurança e outros direitos básicos, essa vulnerabilidade social pode desencadear abusos ainda piores, os quais citaremos abaixo.

Trabalho, abuso e casamento infantil
 

Os índices de trabalho infantil costumam disparar em meio às guerras. Impossibilitados de prover o sustento das crianças, uma das alternativas encontradas por chefes de família é fazer com que estas próprias crianças sejam submetidas a atividades laborais destinadas a adultos, levando estes pequenos à exaustão e os condenando a uma realidade muito longe do cenário ideal de desenvolvimento saudável, mas isso não é tudo.

Dentre os horrores da guerra, uma das maiores atrocidades está em utilizar a sexualidade para subjugar aquele que é tido como inimigo. Mulheres e crianças são comumente abusados sexualmente enquanto os homens da família nada podem fazer. Estes são, inclusive, obrigados a presenciarem tais cenas de horror em um ato covarde tido como demonstração de força.

Para evitar abusos de outros homens e como forma de salvar o sustento da família, muitos pais optam por arranjarem um casamento para meninas ainda crianças, estas que não possuem estrutura emocional, maturidade e capacidade de firmarem um compromisso destinado a mulheres adultas com o seu consentimento. Esses casamentos também podem se enquadrar em abuso infantil, se consumados.

O que fazer para ajudar?

O ChildFund International, junto ao ChildFund da Alemanha  atuam há quase 20 anos no apoio a crianças ucranianas afetadas pelo câncer, e toda ajuda possível é de extrema importância nesse momento. Precisamos prover alimentação, saúde, segurança e apoio psicológico para quem mais necessita: as crianças. Não apenas as crianças afetadas pelo conflito Rússia x Ucrânia, mas toda e qualquer criança que tenha a sua integridade física e emocional ameaçada. Clique para ajudar crianças ucranianas.

Embora não estejamos vivendo uma guerra, o Brasil é um país cercado pela vulnerabilidade social, e a violência é uma das consequências de toda essa desigualdade. Milhares de crianças brasileiras são submetidas a uma realidade de desamparo e privação de direitos, e o nosso trabalho é essencial para permitir que mais e mais pessoas tenham acesso a oportunidades de transformação.

Nossos projetos inspiram soluções que incentivam a não violência, e o acesso a educação de qualidade é primordial nesse processo. Nos ajude em nossa missão de garantir que crianças e adolescentes que vivem em situações  de vulnerabilidade  tenham a chance de quebrar o ciclo da pobreza e construam uma trajetória diferente com mais dignidade, segurança e oportunidades.

Apadrinhe já.

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ChildFund Brasil

O ChildFund Brasil é uma organização de desenvolvimento social que por meio de uma sólida experiência na elaboração e no monitoramento de programas e projetos sociais mobiliza pessoas para a transformação de vidas. Crianças, adolescentes, jovens, famílias e comunidades em situação de risco social são apoiadas para que possam exercer com plenitude o direito à cidadania.

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