Há vida numa fé desconectada das obras?

Em muitas ocasiões, os escritos bíblicos são interpretados de maneira que os colocam em contradição. Um exemplo claro disso é o falso embate entre os dizeres de Paulo e Tiago acerca da justificação pela fé ou pelas obras.

Existe vida numa fé desconectadas das obras? No presente texto explicaremos o motivo. Confira a nossa análise sobre o que disseram os profetas!

O que Paulo disse vs. o que Tiago disse

Paulo diz que somos justificados pela fé e não pelas obras:

  • “Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça” (Rm 4:5).
  • “Não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou” (Tt 3:5).
  • “Pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2:8-9).

Em suposta contradição, Tiago declara que:

  • “uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente” (2:24)
  • “a fé sem obras é morta” (2:26)

Não bastassem essas declarações que, separadas de um contexto, parecem ser opostas, os profetas discordam inclusive sobre Abraão. De acordo com Paulo (Rm 4:1-4), Abraão foi santificado pela fé (Rm 4:1-4), mas conforme Tiago (Tg 2:21): “Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado?”

Como resolver esse embate? Analisando o contexto em que as frases foram proferidas.

Contextualizando o versículo Tiago 2:24

No 2º capítulo da carta de Tiago (26 versículos), é comentada a relação entre a fé e as obras. Para tanto, o profeta se utiliza do exemplo de alguém que diz ter fé, mas que não a transforma em obras.

Para ele, essa fé é vazia, morta e se assemelha à fé dos demônios que, apesar de também crerem em Deus, possuem fé inútil por não resultar em obras adequadas. A verdadeira fé se faz com ações, a chamada “fé viva” e é demonstrada por Abraão:

“Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque? Vês como a fé operava juntamente com as suas obras; com efeito, foi pelas obras que a fé se consumou, e se cumpriu a Escritura, a qual diz: Ora, Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça” (21-23).

A fé deve se manifestar em alguma obra adequada para ser verdadeira

Em suma, a fé deve se manifestar em alguma obra adequada para ser verdadeira. Uma fé morta não é justificável, pois não produz mudanças em uma pessoa.

Crer não é o bastante, uma vez que é preciso confiar e demonstrar essa fé em uma vida voltada para Deus. Pelos versículos de Paulo, há ênfase na justiça pela fé, uma reação à crença de que a lei ou as obras justificam o homem por si só.

Para Tiago, a questão não diz respeito à justiça pela lei (meio de salvação), mas à conectividade entre fé e obra. O assunto não é tratado sob o mesmo foco.

Paulo e Tiago não se contradizem

É possível ver que Paulo e Tiago não se contradizem, mas tratam de focos diferentes. Paulo trata da raiz da justificação, que é feita perante Deus. É a justificação pela fé, que é produtora de obras.

Já Tiago fala do fruto da justificação, realizada perante os homens. É a justificação pelas obras, que são provas de que há fé.

O que é Ascentia e Fiducia?

Tiago demonstrou que os demônios creem na existência de Deus e a reconhecem. A Ascentia (ascensão) é exatamente o reconhecimento mental da existência de algo.

Aquilo que vai além do mero reconhecimento é a Fiducia (fidúcia), que envolve a confiança em algo e a entrega a ela. Em outras palavras, a completa crença e aceitação.

Se pegarmos como exemplo Cristo, muitas pessoas acreditavam que ele viveu (ascentia), mas não tinham crença de que era o Salvador que deveria ser buscado para o perdão dos pecados. Um verdadeiro cristão tem fidúcia, a fé verdadeira e real em Cristo, indo além do mero reconhecimento de sua existência aqui na Terra.

Qual a relação da ascentia e da fidúcia com as obras? É simples. Somente a fidúcia leva às obras, que são frutos da fé verdadeira.

Somos justificados pela fé ou pelas obras?

Não há fé verdadeira desconectada das obras. Somos justificados pela fé, como disse Paulo, citando Abrãao.

A justificação acontece quando Deus declara um pecador como sendo justo. Também Tiago disse que “Abraão creu em Deus e isso lhe foi imputado para justiça”.

Se possuímos fé, somos justos aos olhos de Deus. Porém, se a fé for verdadeira, terá como frutos ações adequadas à salvação. Deus disse em Efésios (2:8-10):

“Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”.

Portanto, se realmente temos fé, devemos exercer nossa função de produzir boas obras.

Qual é o papel das obras em nossas vidas?

Não há vida numa fé desconectada das obras. A conexão entre fé e obras é evidente: por meio das obras, a fé se consuma; por meio da fé, produzimos boas obras. O papel delas em nossas vidas é provocar uma mudança positiva em nós mesmos e no próximo, uma realização pessoal e social.

A cada sensação de dever cumprido e de sacrifício em nome de Jesus, nos sentimos recompensados no que é mais importante: o amor. Em Hebreus (10:24), isso fica claro: “Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras”. Ajudar o outro é o que nos proporciona o sentimento de que estamos contribuindo, de alguma forma (ainda que pequena) para a melhora do mundo em que vivemos.

“Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados” (I Pedro 4:8). Dedicar seus recursos pessoais a ajudar o outro é gratificante! De todo o legado que Jesus nos deixou, um se sobressai sobre os demais: a recomendação divina de amar os semelhantes como Ele próprio nos amou.

Que tal colocar em prática a sua crença em Deus? Nunca é tarde para começar e dar esse importante passo na sua vida como cristão!

ChildFund Brasil

O ChildFund Brasil é uma organização de desenvolvimento social que por meio de uma sólida experiência na elaboração e no monitoramento de programas e projetos sociais mobiliza pessoas para a transformação de vidas. Crianças, adolescentes, jovens, famílias e comunidades em situação de risco social são apoiadas para que possam exercer com plenitude o direito à cidadania.

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