Crianças na internet: como protegê-las dos riscos do excesso de uso de telas

A evolução tecnológica no Brasil caminhava em um certo ritmo, que foi extremamente acelerado com a pandemia da Covid-19. O que era esperado para ser visto entre cinco e dez anos, acabou acontecendo em um intervalo de tempo muito menor. Com a crise sanitária, praticamente todas as interações migraram para o mundo digital, tornando as pessoas ainda mais dependentes das telas. A maior preocupação está relacionada às crianças na internet e o quanto o uso excessivo desses dispositivos pode comprometer o desenvolvimento físico, emocional e social desses pequenos.

Antes da pandemia, o brasileiro estava aprendendo a usar a internet e outros recursos de modo balanceado, mas a chegada do vírus desestruturou essa rota e dificultou o controle do tempo conectado, bem como os conteúdos à disposição dos mais novos. Especialistas da área de psicologia e psiquiatria destacam a preocupação em relação ao uso das telas para fins recreativos. Com o confinamento imposto pela pandemia, muitas crianças e adolescentes ficaram expostos ao entretenimento digital.

Há mais de 20 milhões de adolescentes e crianças na internet

Uma pesquisa realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil em 2019 mostra a popularidade das plataformas digitais entre os jovens do país. O levantamento aponta que 89% da população entre 9 e 17 anos está conectada, o que representa 24,3 milhões de crianças e adolescentes. Desses, 95% (ou 23 milhões) usam o celular como o principal dispositivo para acessar sites e aplicativos.

O levantamento mostra que um quarto dos jovens brasileiros considera que passam muito tempo conectados e confessam que não têm controle sobre esse período na frente das telas. O problema está no que acontece dentro deste universo. Conforme mostra a pesquisa, 43% dos jovens já testemunharam episódios de discriminação online.

As meninas são as mais impactadas por conteúdos prejudiciais: 31% foram tratadas de forma ofensiva, 27% acabaram expostas à violência e 21% acessaram materiais sobre “estratégias” para emagrecer.

Diretrizes previstas por entidades médicas estipulam um limite de uso para crianças na internet

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) orienta um limite conforme a idade e etapas do desenvolvimento infantil.

  • Evitar a exposição de crianças menores de 2 anos às telas, sem necessidade (nem passivamente);
  • Para crianças com idade entre 2 e 5 anos, limitar o tempo de telas ao máximo de 1 hora/dia, sempre com supervisão de pais, cuidadores ou responsáveis;
  • Para crianças com idade entre 6 e 10 anos, limitar o tempo de telas ao máximo de 1 a 2 horas/dia, sempre com supervisão de pais ou responsáveis;
  • Para adolescentes com idade entre 11 e 18 anos, limitar o tempo de telas e jogos de videogames a 2 e 3 horas/dia, e nunca deixar “virar a noite” jogando.
  • Para todas as idades: nada de telas durante as refeições e desconectar-se 1 a 2 horas antes de dormir.

Os meios e dispositivos mais utilizados por crianças na internet são:

– Celulares e tablets: acabam sendo considerados brinquedos e viram objetos de presente aos pequenos. É preciso ter regras para acesso e controle de conteúdo.

– Televisão: hoje está entre os equipamentos menos viciantes, quando comparada com os demais; porém, ainda necessita de ser utilizada de forma adequada e monitorada.

– Videogame: os jogos são os que estão mais associados à dependência eletrônica. São os principais motivos que geram insônia e agressividade como consequências do uso excessivo.

– Redes sociais: o objetivo principal era o relacionamento entre as pessoas, mas podem desencadear a exposição ao bullying e o isolamento, tendo como consequências o aumento da ansiedade e o risco de depressão.

As consequências do acesso de crianças na internet

O acesso aos celulares e tablets nos primeiros anos de vida pode trazer grandes prejuízos, segundo pesquisa realizada pela Universidade do Ceará e pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, em parceria com outras instituições.

Cientistas acompanharam 3.155 crianças cearenses do nascimento até os 5 anos de idade. Segundo a pesquisa, em média, 69% de todos os participantes foram expostos a um tempo excessivo de tela.

Nos primeiros 12 meses de vida, 41,7% dos recém-nascidos tiveram acesso a vídeos e outros estímulos visuais passivos além da medida, porcentagem que aumenta e bate 85,2% quando chegam aos 4 e 5 anos.

O levantamento mostrou que cada hora de uso dos dispositivos eletrônicos diminuiu consideravelmente a capacidade de comunicação, de resolução de problemas e de sociabilidade dos pequenos.

Isso se dá porque os primeiros 1000 dias de vida de uma criança são importantes para o desenvolvimento cerebral e mental de qualquer criança, assim como os primeiros anos de vida, a idade escolar e toda a fase da adolescência, conforme a Sociedade Brasileira de Pediatria.

Essa fase é responsável pelo desenvolvimento de diferentes estruturas e regiões cerebrais que amadurecem todos os circuitos sensoriais. Essas estruturas modelam a arquitetura e a função dos ciclos neurobiológicos para produção dos neurotransmissores e conexões sinápticas, e é muito importante que se crie um contexto propício para que as capacidades cognitivas da criança se desenvolvam sem as interferências prejudiciais do uso desenfreado de eletrônicos.

Pela mesma razão, o olhar e a presença de pais e família é vital e instintivo como fonte natural dos estímulos e cuidados do apego, e estes não podem ser substituídos por telas e tecnologias.

O cérebro não nasce pronto

As consequências do acesso de crianças na internet sem supervisão não se limitam à primeira infância, sendo necessário manter o acesso limitado e supervisionado ao mundo digital, mesmo em idades mais avançadas.

Isso se dá porque o cérebro não nasce pronto, o seu desenvolvimento acontece de pouco a pouco ao longo de três décadas da vida, ou seja, algumas partes desse órgão só vão amadurecer completamente quando a pessoa chega aos 25 ou 30 anos, conforme o Manual de Orientação da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Desta forma, quando o cérebro é exposto a muitos estímulos prazerosos disponíveis em qualquer plataforma online, alguns comportamentos se tornam impulsivos e automáticos, aliviando episódios recentes de tédio, estresse ou depressão. Com isso, algo que começou como uma distração, passa a ser uma solução rápida para dar fim a sentimentos perturbadores e emoções difíceis com as quais as crianças e adolescentes ainda não aprenderam a lidar.

Não é à toa que a pandemia fez um estrago na saúde mental de crianças e adolescentes. De acordo com a pesquisa Impactos primários e secundários da Covid-19 em Crianças e Adolescentes, feita pelo UNICEF, 54% das famílias relataram que algum adolescente do domicílio apresentou algum sintoma relacionado à saúde mental.

Ao menos 27% dos respondentes relataram que adolescentes apresentaram insônia ou excesso de sono; 29% tiveram alteração no apetite e 28% disseram que os adolescentes apresentaram diminuição no interesse em atividades rotineiras.

A importância de promover uma infância feliz

O uso excessivo das telas, quando utilizado como forma de recreação, impede que essa parcela de usuários faça “coisas de criança” como brincar, sociabilizar com outras crianças, entre outros desenvolvimentos.

No artigo “Os benefícios da atividade física na infância”, falamos mais sobre o assunto.

A realidade é ainda mais desafiadora quando falamos de crianças e adolescentes que vivem em vulnerabilidade social. Outros agravantes são somados para impedir o desenvolvimento pleno, já que são expostos aos fatores de risco como a pobreza, abuso ou violência, insegurança alimentar, entre outros.

Por isso a importância de proporcionar uma infância feliz e saudável, contribuindo com condições para que as crianças e adolescentes atinjam seu pleno potencial de desenvolvimento. E sabe como isso é possível? Através do apadrinhamento financeiro.

Ao apadrinhar uma criança, você estará contribuindo com um fundo coletivo que financia a realização de projetos sociais e atividades apoiados pelo ChildFund Brasil, dos quais a criança e sua família participam.

Além disso, padrinhos e madrinhas podem participar das vidas das crianças através de cartas, telefonemas e visitas supervisionadas. Podem também receber, periodicamente, boletins, e-mails e mensagens com informações das crianças e os resultados do trabalho do ChildFund Brasil. Um relatório anual também é disponibilizado para que padrinhos e madrinhas acompanhem o progresso individual de cada criança.

Os Relatórios de Sustentabilidade, com bases em diretrizes globais, estão disponíveis no nosso site com a prestação de contas ano a ano para que as pessoas possam consultar onde os recursos foram aplicados. Desta forma, estabelecemos uma relação de confiança com os nossos doadores e com a sociedade como um todo.

Ao apadrinhar uma criança, você está contribuindo não só com o desenvolvimento individual, mas também oferece melhores condições para todo o ambiente em que a criança está inserida, uma vez que os nossos projetos são realizados para ela e suas famílias.

Conheça mais dos nossos projetos aqui.

Se você quer contribuir para uma infância feliz das nossas crianças e adolescentes, apadrinhe. Sua atitude pode mudar uma vida!

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ChildFund Brasil

O ChildFund Brasil é uma organização de desenvolvimento social que por meio de uma sólida experiência na elaboração e no monitoramento de programas e projetos sociais mobiliza pessoas para a transformação de vidas. Crianças, adolescentes, jovens, famílias e comunidades em situação de risco social são apoiadas para que possam exercer com plenitude o direito à cidadania.

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