Decidir criar filhos de maneira mais humanizada é o primeiro passo de um percurso que vem cheio de dúvidas, afinal como educar sem bater? Como agir quando as (inevitáveis) birras, desafios a autoridade e o mau comportamento acontecer?
A boa notícia é que existem alternativas ao castigo físico e elas são verdadeiras benéficas para o desenvolvimento das crianças. De acordo um estudo americano, quando uma criança é criada sem violência, ela se desenvolve com melhor comportamento do que aquelas que sofreram algum tipo de agressão.
Quer entender melhor como educar sem bater e ajudar seus filhos a se desenvolverem de maneira mais saudável? Continue lendo este artigo!
Existem inúmeros estudos que apresentam motivos convincentes para não optar pelas palmadas, gritos e xingamentos no dia a dia com os menores:
a violência interfere no desenvolvimento cerebral, podendo alterar a forma do órgão, uma vez que a produção de hormônios do estresse aumenta sob exposições a agressão física, psicológica e verbal (conferência da Academia Americana de Pediatria);
crianças submetidas a agressões até os cinco anos de idade demonstram mais problemas de comportamento ao longo do seu desenvolvimento, principalmente entre seis e oito anos (Universidade do Texas e Virginia);
bebês expostos a mais de duas violências físicas, se apresentaram mais agressivos aos cinco anos e com comportamentos negativos aos nove (conferência da Academia Americana de Pediatria);
crianças que apanham são mais desobedientes na infância e também sofrem na fase adulta com revoltas e insubordinação no ambiente de trabalho (Universidade de Manitoba, Canadá);
apanhar pode desencadear problemas de cognição e saúde mental, além de comportamento antissocial (Universidade do Texas);
mesmo agressões ditas “mais leves” (palmadas na extremidade das mãos, puxar o cabelo, etc) têm consequências negativas como: aumento da agressividade, compromete relação com os pais, baixa autoestima, não assimilação de regras (Journal of Family).
Assim, vale a pena investir esforço em uma educação que preserve a saúde e agregue valores positivos.
Parece difícil entender como educar sem bater? Pois saiba que existem várias metodologias que servem como apoio aos pais na decisão de mudar a forma de educar crianças. Entre elas estão a Comunicação não-violenta e a Disciplina Positiva. Abaixo explicamos um pouco mais sobre cada uma.
Propagada por Jane Nelsen, que estruturou a metodologia a partir do trabalho de dois psiquiatras (Alfred Adler e Rudolf Dreikurs), a disciplina positiva é uma proposta que incentiva a compreensão entre as pessoas, a partir do reconhecimento das emoções.
Por isso, essa metodologia não aprova medidas como chantagem, suborno e castigos, pois, estabelece o bom comportamento como algo não-condicionado, assim como a oferta de amor e carinho. Para tanto, a Disciplina Positiva se desenvolve a partir de critérios, como:
Conceito criado pelo psicólogo Marshall Rosenberg, a Comunicação Não-violenta (CNV) trabalha a forma de falar e também a de escutar, a partir da empatia e da atenção, a fim de proporcionar respeito mútuo e segurança emocional.
Assim, antes de sair gritando ou dando milhares de ordens para seus filhos, na CNV o processo passa pela observação, como um ato de consciência, ao analisar a situação e contexto; segue pelo reconhecimento do sentimento, dando nome a ele; continua pela identificação do que causou tal sentimento, ou seja, a necessidade de suprir determinados desejos ou valores; e termina em ações que concretizem essa necessidade.
Todo esse processo é árduo e trabalhoso, mas muito satisfatório, pois dá respostas para o que, antes, provocava violência e abre um espaço novo para a real emoção se desenvolver e amadurecer.
Até aqui deu para perceber que ambos os conceitos são úteis não somente para entender como educar sem bater, mas também para demais relações interpessoais, não é mesmo? Então, para ter ideias de como lidar com os pequenos no dia a dia e colocar em prática as orientações das metodologias que citamos, veja as dicas abaixo.
Usar adjetivos na correção de uma criança faz com que ela interiorize tais palavras e se limite devido a isso. Assim, ao usar essas expressões, você poderá fazer com que o seu filho não se sinta capaz de melhorar e ir além. Como resultado, ele pode acabar desistindo de tentar porque sempre “faz tudo errado”, “é muito preguiçoso”, “não presta atenção em nada” etc.
Na lógica inversa do tópico anterior, reconhecer e enfatizar as boas atitudes das crianças as encorajam a continuarem tentando e experimentando novas possibilidades. Afinal, desse modo, elas não desenvolvem o medo de serem humilhadas, ridicularizadas ou ignoradas (ainda que chamar a atenção possa ser uma prática comum usada por algumas crianças para conseguirem mais atenção dos pais).
Chorar é uma forma de expressar diversos sentimentos. Reprimir essa ação não é algo positivo, pois ensina, desde a infância, que os sentimentos precisam ser mascarados e reprimidos. Essa atitude não dá as crianças a chance de elas aprenderem com essa sensação, nem de experimentarem a frustração, a tristeza e a angústia — sentimentos naturais que precisam ser vivenciados de maneira saudável.
É claro que isso não significa fingir que nada está acontecendo. Tentar conversar e entender (sem diminuir a situação) o motivo do choro é papel dos responsáveis. Apenas não reprima esse recurso que é uma forma de lidar com emoções.
Outro ponto bastante importante é saber como abordar e o que cobrar conforme a faixa etária da criança, dado o nível de entendimento para que a comunicação entre pais e filhos surta efeito.
Assim:
Quando as crianças estiverem contando algo, tenha uma postura ativa de atenção, por exemplo perguntando mais detalhes (tomando o cuidado de não interromper) e, somente com o fim da narrativa, aponte caminhos. Isso fará com que a criança se sinta respeitada e entendida, fazendo com que continue buscando seu auxílio para desabafar.
Abordar e persistir nessas ações é de extrema importância, a fim de desnaturalizar a punição física nos lares. Isso porque, no Brasil, 80% da violência física dirigida a crianças e adolescentes acontece no meio familiar.
Como você viu, educar sem bater não precisa ser um “bicho de sete cabeças”. Valorizar e respeitar a criança é de suma importância, buscando uma comunicação não agressiva e também entendendo que, mesmo pequenos, nossos filhos são seres pensantes, críticos e atuantes que merecem nosso respeito, carinho e orientação.
E, então? Que tal ajudar mais pais a saberem como educar sem bater e apresentar essas informações? Compartilhe o post nas suas redes sociais e incentive que mais crianças possam se desenvolver de maneira amorosa e respeitosa!
O ChildFund Brasil é uma organização de desenvolvimento social que por meio de uma sólida experiência na elaboração e no monitoramento de programas e projetos sociais mobiliza pessoas para a transformação de vidas. Crianças, adolescentes, jovens, famílias e comunidades em situação de risco social são apoiadas para que possam exercer com plenitude o direito à cidadania.